“Nagamatsu Seifu Ten”
Capa:
Nissen Shounin (Nagamatsu Seifu), este ano completa 200 anos de nascimento. A foto da capa é uma raridade, fotografada em seus últimos anos de vida. Nascido em Kyoto, tornou-se renomado em meio ao povo, numa época de mudanças radicais na história do Japão. Foi aclamado como notável reformista budista, que reinstaurou a prática religiosa. No semblante de sua foto, podemos sentir tudo isso.
Na sua vestimenta e faixa monástica preta, na poesia e desenhos do leque em suas mãos e em seu olhar compenetrante, além da profunda naturalidade podemos sentir a sua vivacidade em seu aguçado olhar. Também é possível visualizar a cicatriz em seu nariz descendo sobre o seu rosto.
Em meio aos senhores feudais, revolucionários e defensores da pátria que fizeram nome em sua época, Nissen Shounin desponta como um ilustre religioso. Dentre mestres religiosos, é raro encontrar uma foto tão notável como esta de Nissen Shounin.
Esta foto se encontrava guardada, no Templo Tyoshoji, em Kyoto, Shijyo, onde passou seus últimos anos. Algo que, nitidamente o simboliza como monge reformista que atuou no auge do período e restauração da Era Meiji, no Japão. Sua vestimenta e faixa monástica preta, simbolizam a sua advertência aos monges de seguimentos budistas tradicionalistas da época que priorizavam a hierarquia acima da salvação das pessoas.
O lindo leque nas suas mãos e a sua postura estática em que fita a quem observa, denota o seu raro perfil artístico, além parecer desafiar aqueles que buscam por glória e fama e que discriminam as pessoas. Suas cicatrizes, são traços da crueldade que, em prol do Darma, teve que enfrentar em sua época.
Contrariou as ostentações, despojando-se da hierarquia e de renomes. Foi alguém que simplesmente se entregou em busca da restauração religiosa, e que não titubeou diante das tentações e distúrbios da vida.
Qual seria então o budismo que ele almejou e qual foi o budismo que ele reinstaurou?
Todas essas respostas se encontram nas exposições que já realizamos em nosso Museu do Budismo Primordial, em Kyoto. Já foram realizadas as seguintes exposições:
“O Budismo e Sakamoto Ryoma”, “O poeta Miyazawa Kenji e o Sutra Lótus”, “Uma gota do Beija-flor”, “O Brasil e o Budismo”, “A Sri Lanka e o Budismo”, “O Japão em uma mala, nos 70 anos pós-guerra & A Paz e o Budismo”, todas foram exposições focadas na ótica e trabalho de vida desse grande Mestre Nissen Shounin.
Em Kyoto, de fato, existiu Nissen Shounin, um nobre a ser redescoberto. Além de notável monge, foi também um nobre herdeiro das artes e da cultura do período Edo.
No entanto, lembremos, Nissen Shounin foi um reformista e não um revolucionário. Foi alguém que lançou uma pedra em busca da restauração no mundo budista, e que aplicou nisso todas as suas habilidades, fazendo voltar às origens o budismo propagado por Nitiren Daibossatsu. E dessa forma, do alto da sua despojada simplicidade, devolveu ao povo os ensinamentos budistas, e como devoto do Sutra Lótus, desde o início ao fim, viveu exatamente este estilo de vida. Realmente desconheço outro religioso assim.
Quando descobrimos a sua vida, ao mesmo tempo, redescobrimos a importância da prática budista como a esperança neste mundo conturbado de hoje. Pode-se dizer que, pela correta prática budista, em nossas vidas reacendeu a lamparina da esperança. Espero que todos possam deslumbrar-se na vida de Nissen Shounin, que percorreu a cidade capital, Kyoto, e que hoje faz correr em nossas veias a sua própria energia.
Palavras do Curador do Museu do Budismo Primordial, em Kyoto, Nagamatsu Seijun. Pag. 3 do catálogo da Exposição “Nagamatsu Seifu Ten”, março de 2017. A quem também agradecemos o gentil fornecimento da foto da capa, propriedade da família Nagamatsu.